Já estamos quase em outubro, até então, já me envolvi em tantas histórias, tantos romances, tantas histórias bonitas, tantas histórias tristes, tantas histórias bonitas e tristes, e tiveram histórias alegres também.
Ao finalizar cada uma de minhas leituras eu sempre pensava: vou fotografar o livro, vou lá registrar tudo no blog…”
Bem, como vocês viram, aqui, não mais voltei. Fiquei apenas produzindo e colecionando fotos dos livros que li, e falando para mim mesma que logo, logo, voltaria para compartilhar.
Enfim, o tempo foi passando e nada fiz.Sobre Mrs. Dalloway.
O livro que tem um dos mais belos início e fim que já li em minha vida. Sério!
Mas a minha relação com esse livro nem sempre foi doce assim…
Faz muito tempo que eu o tenho, e estou certa de que quando o ganhei, li de imediato.
É um livro adorado para os que amam clássicos da literatura (e é exatamente aqui que me encontro), mas por que diabos eu não “senti” muita coisa através dessa leitura, ao ponto de não lembrar quase nada da história?
Retomei a leitura de Mrs. Dalloway para um projeto pessoal. Quando peguei o livro na estante e vi que ele não tinha NENHUMA marcação, logo percebi que tinha algo de errado ali.
Enfim, reli o livro, e… CÉUS, que livro é esse?
Chorei em algumas passagens… Sou assim, chorona com as letras.
O livro é fino, tem quase 200 páginas e a história não poderia parecer mais banal.
A autora narra um dia na vida de Clarissa Dalloway, uma mulher rica, muito elegante, e que adora dar festas… E a simplicidade da história acaba exatamente aqui.
O livro é um mar sem fim de sentimentos.
Tudo começa quando a senhora Dalloway “disse que ela mesma iria comprar as flores“.
E ela vai comprar as flores, afinal, a casa tinha que está impecavelmente bem apresentável para os convidados. “Delfínios, ervilhas-de-cheiro, maços de lilases, e cravos, montes de cravos. Também rosas e íris…” (p. 19). Flores, era preciso muitas flores para dar aquela festa.
Mas, de quantas flores e quantas variedades da mesma seria necessário para expressar a delicadeza e profundeza da senhora Dalloway?
Não sei… Talvez a infinitude seja suficiente.
Há trechos nesse livro que simplesmente me arrebatam imensamente como:
” Uma mulher que se sentava em sua sala e fazia desta um local de encontro, certamente uma radiância para algumas existências opacas, um refúgio onde podia se abrigar os solitários, talvez ela havia incentivado homens, e eles se mostraram agradecidos; havia procurado ser sempre a mesma, nunca revelando nada de tantos outros aspectos de si mesma – falhas, ciúmes, vaidades, desconfianças, como nesse caso em que Lady Bruton deixou de convidá-la para o almoço; o que pensou (afinal penteando o cabelo), é de uma baixeza sem tamanho! Bem, onde estava o vestido?” (p.42).
A identificação foi completa, consigo me imaginar perfeitamente penteando o cabelo enquanto borboletas se agitam no meu estômago me lembrando do desconforto de não ser, se quer convidada, ou incluída em algo. Acho que todo mundo entende.
Aliás, creio que esse trecho aparece no filme As Horas (um dos meus filmes favoritos na vida), e no filme eu já tinha me comovido com o desconforto da personagem diante dessa situação.
Há várias outras partes no livro que me deixaram comovida, como a relação de amor e amizade da Clarissa Dalloway com Sally Selton, onde o narrador deixa claro que era um sentimento diferente do que se sente pelos homens. Era um sentimento de qualidade ímpar, que poderia existir somente entre as mulheres, mas que infelizmente, ambas as amigas, (ou todas a mulheres do período), no fundo sabiam que aquela relação intensa iria findar com a chegada do casamento:
” De sua parte tinha um aspecto de proteção; nascido da percepção de serem aliadas, de um pressentimento de que estavam destinadas a se afastar uma da outra (sempre falavam do casamento como sendo uma catástrofe), que levava a esse cavalheirismo, esse sentimento protetor bem mais forte nela do que em Sally.” p.39
Como não me comover?
O livro é uma completa imersão na sociedade inglesa do início do século XX, brutalmente marcada pela primeira guerra mundial.
Mas o fato é que para mim, o livro é atemporal (como costuma ser todos os grandes clássicos da literatura, talvez venha daí a genialidade dessas obras), ele traduz a sociedade daquele período, mas que, ainda hoje, não me impede de me identificar com todas as páginas do romance.
Esse livro é imenso e absolutamente lindo!
E para finalizar, como eu disse lá no início, o livro inicia de maneira bela e se encerra de maneira plenamente bela também…
“O que é essa excitação extraordinária que toma conta de mim?
É Clarissa, disse ele.
Pois ali estava ela.” p. 196.
Virgínia Woolf, muito obrigada por ter narrado a vida por vias tão delicadas.
Amor infinito!
Mrs. Dalloway (1925)
Autora: Virgínia Woolf
220 páginas
Editora: Cosac Naify
Obs: O post ficou imenso. Não faz parte do meu estilo (acho), mas no fundo, são as citações que são longas… E confesso que me parece um pouco difícil ser sucinta quando o assunto é Mrs. Dalloway. =}