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Memória

“Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão

Mas as coisas findas
muito mais que lindas,
essas ficarão.”

Carlos Drummond de Andrade

-1959-

_DSC0601Uma (pequena) nota sobre essas flores do post.

Eu as comprei, ainda como sementes, num supermercado qualquer. Joguei elas na terra, ainda na casa dos meus pais.
Cuidei, vigiei. Dei carinho, namorei cada broto que ia surgindo.
Foram crescendo, ficando fortes, mas logo começaram a morrer, aos poucos.
Decidi que ia pegar duas mudas, cultivar na água, para futuramente levar para minha nova casa.
O restante que permaneceu na terra, morreram todas.

Quando plantadas na água, elas se desenvolveram bem.
Surgiram botões anunciando futuras flores. Confesso que fiquei emocionada.
Mas logo, percebi que os botões não desabrochavam, e sim, murchavam.
Pensei: “talvez precisem de terra, fincar raiz.”
Dei terra!
Estava curiosa.
Queria muito saber quais seriam as cores que aqueles botões escondiam dentro de si.
Continuei cuidando. Vigiando de perto.
Na terra, desenvolveram-se lindamente.
Cresceram! Me retribuíram com muitas flores brancas e  rosas.
De repente, puseram-se doentes.
Ficaram fracas, de folhas pequenas e caules finos.
De repente tristeza!
Fiquei de fato aborrecida com a doença.
Apenas uma insistiu em viver, sem se desenvolver bem.
Permanecia fraca e pequena.
Depois, também morreu.

Fez-se frustração!
Fiquei decepcionada comigo mesma pela morte das flores.
Falei para mim mesma que ia parar com isso, pois apesar de ser desapegada, não estava sabendo lidar com a morte de minhas plantas.
Não aprendi.
Continuo tentando.
Não sou cláusula pétrea, em absolutamente nada na vida…
Um sorriso me desarma.
Um pedido de desculpa me faz dizer “eu te amo”.
A esperança de fazer dar certo, de fazer permanecer as coisas mais lindas, ainda que em meio a tantos indícios de “não”, me faz persistir.
Às vezes em ideias absurdas, confesso.
Enfim, continuo jogando sementes por aí, aguardando ansiosamente por uma retribuição.