“Um homem não é independente a menos que tenha coragem de estar sozinho. Haldor Laxness, Gente independente”
Certa vez o professor de fotografia do semestre passado falou que que tinha iniciado a leitura de um livro muito interessante, e que ao ler a nota introdutória citada acima ele lembrou de mim imediatamente. Obviamente fiquei super curiosa em saber mais sobre esse livro, ele já havia me indicado um outro livro antes, A delicadeza, com o qual me encantei profundamente, não pensei duas vezes em ir atrás dessa nova sujestão de leitura, o livro A desumanização de Valter Hugo Mãe.
Não comprei o livro imediatamente, havia pouco tempo que tinha ganhado do namorado TODOS os livros que eu tinha colocado na lista de desejos, ou seja, tinha livro demais e tempo de menos para ler tudo que tinha na minha pequena biblioteca.
Porém, mesmo tendo outros livros maravilhosos me esperando, comprei o livro A Desumanização na primeira oportunidade. E abrindo o coração, ainda bem que o comprei, ainda bem que o incluí na cesta de compras quando estava comprando um livro de presente para minha amiga.
Eis que enfim comecei a ler A Desumanização. É um livro pequenininho, com apenas 154 páginas e com uma capa linda. Quem dá voz ao romance e nos leva a uma experiência onírica e profundamente poética é uma garota de apenas 11 anos.
Halla nos é apresentada como a menos morta das irmãs, pois a outra, a sua metade, parte de sua identidade e parte de sua alma, inicia o romance já sendo criança plantada, completamente morta.
O livro é narrado de uma maneira completamente poética, cheio de metáforas que de maneira maravilhosa em momento algum me fizeram ficar imersa em um imaginário confuso, muito pelo contrário, através da linguagem delicada do autor e da descrição da paisagem islandesa onde tudo acontece, pude imaginar alguns tons predominantes das cores (cinza, verde escuro) daquele lugar, pude imaginar um frio de arder os ossos e cortar a alma.
O livro tem uma linguagem profundamente delicada e poética, porém a história é violenta do começo ao fim. Uma espécie de violência e delicadeza ao mesmo tempo (se é que isso é possível), mas sim, eu achei a história catastrófica e muito violenta e acima de tudo, profundamente triste. Tristeza desoladora, infinita.
“O medo fez aparecer nos meus sonhos um pequeno monstro branco, peludo, o nariz comprido a arrastar pelo chão. Dizia-me sempre a mesma coisa: vim ensinar-te o essencial sobre a tristeza. Era um pequeno monstro como um briquedo de aconchegar, um monstro de brincar. Tinha os olhos carregados de lágrimas e o susto que dava era só esse, o de ternamente impedir a felicidade” Pg, 72
Definitivamente é um livro demasiadamente intenso. A vida dos personagens desse romance nunca melhora, chega a um ponto em que Halla passa por um certo alívio, mas não dá para saber se é alívio de fato ou se é um devaneio. A única coisa que dá para saber que esse alívio é tão efêmero quanto a vida de uma borboleta e imediatamente, tudo volta a ser cinza.
Me apaixonei pelo romance, me apaixonei pelo autor. Sem sombra de dúvidas os outros livros dele, como “A máquina de fazer espanhois” já estão na minha lista de desejos, e foi devidamente remanejados para o topo da lista.
“Algumas pessoas não mantêm a beleza nem das coisas que só sabem ser belas” Pg, 122
Desejo a todos uma calma semana