Durante toda minha infância sempre fui muito fantasiosa. Adorava brincar sozinha apesar de quase nunca rejeitar um convite para brincar com um grupo barulhento de meninas. Mas quando brincava sozinha era lá que a fantasia acontecia. Me lembro que adorava imaginar a cor que era mais conveniente a cada número (por exemplo: o 1 era preto, o 2 era rosa, o 3 amarelo…), assim como supor os possíveis sabores que tinham cada cor (olha aí a sinestesia acontecendo). A cada caixa nova de lápis de cor, cada lápis recebia um nome e um roteiro (e claro, esquecia o nome a a história de cada um em pouco tempo). As plantas daqui de casa também tinham nomes, me lembro bem de conversar com um punhado delas no fim da tarde, e me lembro como se fosse hoje o dia em que eu estava discutindo feio com uma planta, não me lembro a razão, mas na minha cabeça, ela tinha me dado motivos suficientes para ao invés de receber um carinhoso: “tchau plantinha, vou tomar banho”, eu dei-lhe um tapa, e sai pisando firme. Minha mãe que sempre me via tão carinhosa com as plantas ficou sem entender e me chamou a atenção, sei que pouco tempo depois algumas plantinhas murcharam e ficaram feias, (não chegaram a morrer) e minha mãe disse que tinha sido por conta do meu ato naquele tarde. Fiquei profundamente triste, e mais triste ainda fiquei porque havia pedido desculpas para ela no dia seguinte. Acho que ela ignorou meu pedido.
Mas dentre todas as malucas e lúdicas fantasias da infância, eu persegui com todas as forças, o desejo de voar. Investia tempo e imaginação, dias após dias tentando imaginar como isso poderia acontecer.
Já pulei da torre da caixa d’água com um guarda-chuva na mão (não quebrei nada), já amarrei uma corda na cintura que estava presa na viga do teto da área da casa de um tio, sobi na mureta para experimentar o salto (ainda que presa em um corda, imaginei que aquilo de certa forma iria me fazer sentir alguns segundinhos a sensação que o Peter Pan sente ao sair por aí cortando o céu), só que meu tio apareceu na hora, desamarrou a corda e me deu uma bronca de deixar os olhos mareados e lágrimas na vós. Mas ainda sim não tinha desistido. Na casa de uma colega havia uma planta de enormes folhas plantada no chão, arranquei duas folhas e as amarrei em meus braços, mal deu tempo de ruflar as asas, logo o líquido que saia das folhas começaram a me sapecar, corri para casa chorando querendo banho.
Mas a mais lúdica e divertida tentativa se dava sempre que via que estava se aproximando aquele temporal, e os ventos fortes já começavam a assoprar pelas ruas, eu corria para a árvore mais próxima, subia no galho mais alto e fino da árvore que pudesse suportar meu peso e lá ficava, sentindo a sensação do vento forte bagunçando os cabelos e o balançar frenético dos galhos da árvore. Não sentia medo. A sensação que sentia é quase inefável. Só sei que entre os sopros do vento, fechava os olhos e imaginava, “nossa, como é bom estar no céu, acima das nuvens, com minhas próprias asas”
Hoje, já não tenho mais esse desejo maluco por voar, tão pouco tenho coragem de pular da torre da caixa d’água ou consigo subir em uma árvore.
Mas sei bem que mantenho em mim boa parte de uma infância fantasiosa. Acredito que a fantasia da minha infância hoje foi substituída por uma vida mais metafórica, bem mais lírica… Deve ser por isso que desisti do desejo de ser uma Cientista política (tenho graduação em Ciências Sociais) e fui ser poesia nas Artes plásticas
O desenho desse post faz parte de uma série de postais que em breve voltarão para a loja
Desejo uma semana lúdica para todos!